Em constante Fuga – 197/365

Já percebeu que existem pessoas que estão em constante fuga e nem sabem do que estão fugindo? Na dica terapêutica de hoje quero trazer um tema que penso que vai ajudar algumas pessoas a compreenderem o seu medo de ficarem sozinhas, a sua ansiedade para terem companhia e “até” os relacionamentos que só aconteceram porque uma das partes estava fugindo de uma situação e acreditou em algum momento que ter alguém (Não importa quem) seria a solução.

Alguns temas que trago pra cá sei que são delicados e pode até pensar de onde tiro estas minhas teorias e eu respondo que são experiências vividas no meu consultório ao longo dos anos e casos muito semelhantes de situações que merecem uma atenção especial, pois pode não ser o que acontece na sua vida, mas pode ser o que acontece a alguém que conhece e pode ajudar.

Ontem atendi uma cliente aqui em Lisboa que gosto muito e que chegou com a queixa de ter ansiedade. Estamos trabalhando nisso, mas entre as suas melhoras e recaídas, percebi que ela utiliza um processo de autossabotagem incrível e a minha sensação é que ela não sabe estar com ela mesmo, que não tem um “registo mental” de tranquilidade e talvez não se sinta merecedora desta paz.

Já tive diante de mim centenas de clientes com ansiedade, crises de pânico e até com medos inexplicáveis e grande parte destas pessoas não se sentem bem sozinhas, mas quando vou mais fundo, quando as coloco em transe hipnótico, se torna muito claro que elas não sabem lidar com a sua própria presença e precisam constantemente estar com alguém ou estar fazendo algo, pois não foram educadas para “se” amarem, para estarem com elas mesmas curtindo o seu melhor.

Lembro de uma vez dizer isso a uma pessoa e ela responder na hora: “O meu melhor? Não entendi!” É muito normal que as pessoas se comportem desta maneira e ignorem o facto de que elas são as pessoas mais importantes do planeta, pois não receberam esta informação e quando estão sozinhas sentem-se quase na obrigação de estar com alguém, de ligar a televisão alta, de falar com alguém, pois sentem que lhes falta algo e não percebem que talvez este algo seja se amar, se aceitar, se compreender.

Conheci clientes que fugiam de momentos como este e ao longo do tratamento de alguns percebi que se tratava de uma questão de não merecimento, ouviram durante toda a infância que não mereciam e os pais os educaram desta forma, não porque eram más pessoas, mas porque foram educados assim, aprenderam assim e viveram assim e se o único registo que tinham era este, o que fazer? Transmitir….

Tive a oportunidade de tratar uma mulher de 35 anos que não conseguia estar nunca sozinha, tinha medos e dizia que a idade estava passando e vivia fugindo dela mesma e os seus maiores motivos? A sua mãe não tinha ninguém, ela encarava a mãe como uma infeliz e tinha medo de repetir a mesma cena e estar sozinha implicava olhar para a sua vida, enfrentar os seus medos, compreender as suas fantasias, estar diante dela mesma e isso para ela era doloridíssimo! Então passava a vida a fugir dela mesma e estar em qualquer braço era não estar sozinha.

Às vezes fugimos de ganhar dinheiro, pois ganhar dinheiro implica “conscientemente” ou (inconscientemente) a pagar impostos e há pessoas que são programadas a não pagar ao estado, acham um roubo, um absurdo e vivem fugindo de ganhar dinheiro. Tive um cliente que vinha de Luxemburgo para Lisboa que não ganhava dinheiro pelo simples facto de ter um registo mental do seu pai que ganhou muito dinheiro, jogava muito e tinha outras mulheres, então a sua associação era que dinheiro era igual a problemas, traições, jogos e destruição da família e como amava a sua, não podia ganhar.

Acredite você ou não, muitas das nossas ações são inconscientes e nem sabemos porque fazemos o que fazemos! É como se tivesse um botão acionado que leva a ações que somente lá na frente pensamos, mas porque raios fiz isso? E mesmo se questionando ou fazendo promessas, continua a fazer e não “interrompe” o padrão e fazer o quê? Se não compreender onde está o botão, se não compreender o porquê dele ter sido acionado, ele continuará ali apertado em algum lugar da sua mente e normalmente é aqui que eu entro com sessões de hipnoterapia e programação neurolinguística para compreender e ressignificar as crenças implantadas.
O Facto é que se prestar mais atenção na sua vida, irá perceber que muitas vezes foge de situações como o diabo foge da cruz e nem sabe porque foge! Então a minha maior dica é que comece a explorar a ideia de estar com você mesmo, de ter os seus momentos mais interessantes, de mergulhar na sua vida, nos seus pensamentos e comece por se conhecer.

No início parece assustar o pensamento de nos conhecermos, não? Pra mim há alguns anos atrás parecia até porque a minha frase era: “Eu sei bem quem sou!” E ao longo dos anos, a cada mergulho fui descobrindo que não sabia nada a meu respeito, apenas sabia que estava em constante evolução e que precisava prestar mais atenção em mim.

Depois vieram as ideias de sair do automático da vida, depois não seguir a “manada”, na sequência percebi que precisa ter mais tempo comigo e aos poucos fui mergulhando na ideia de estar consciente e “esta” consciência despertou em mim o desejo MAIOR de ser eu mesmo, apenas eu e parar de fugir.

Espero que faça sentindo pra ti também e “se” faz escreva abaixo alguma coisa para eu saber que faz e que não estou sozinho neste pensamento.